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21 de junho de 2012

Visão geral sobre Cabala

Achei muito interessante esta reportagem da SUPER sobre a Cabala e repasso agora para o esclarecimento de quem está estudando. Ótima aprendizagem!

Cabala - O misticismo judaico revelado 

Qual a origem do Universo? Por que estamos aqui? De onde vem a vida? O que acontece depois da morte? Imagine se você pudesse fazer todas essas perguntas diretamente para a autoridade máxima no assunto. Isso mesmo: que tal ter uma conversa com Deus e ouvir dele todas as respostas? Agora imagine que as respostas já existem, e foram passadas de geração a geração por um grupo de sábios estudiosos, do início dos tempos até os dias de hoje. Pois essa é a definição da cabala: uma revelação feita por Deus para os homens, capaz de esclarecer todos os mistérios que rondam a humanidade. Conheça aqui a história do misticismo judaico e saiba como a cabala está conquistando o planeta.

No princípio, Deus criou os céus e a Terra. "Faça-se a luz", e a luz foi feita. Depois, Deus criou o homem e o chamou Adão. Findos os 7 dias da Criação, o Senhor viu que tinha feito algo bom. O homem habitava o paraíso e tinha contato direto e constante com Ele. E daí Deus resolveu passar ao homem toda a sabedoria da cabala. "Adão conhecia a cabala", dizem alguns praticantes. O assunto, porém, é controverso entre os próprios cabalistas. Teria o conhecimento da cabala sido passado de Adão a seus descendentes até Noé, depois até Abraão, Moisés e em seguida aos grandes mestres históricos, que selecionavam rigorosamente aqueles que estariam aptos a ser seus discípulos? Não há consenso sobre o momento em que a cabala foi revelada ao homem, mas todos os cabalistas concordam que o ensinamento sagrado veio diretamente do Criador, assim como os 613 mandamentos judaicos contidos na Torá, a bíblia judaica, que os cristãos chamam de Pentateuco. "A cabala é além do tempo, ela não tem nem começo nem fim", diz o rabino israelense Joseph Saltoun, ex-professor do Centro de Estudos da Cabala, em São Paulo, e que hoje leciona em Vancouver, no Canadá.

Mas, afinal, o que é a cabala? Bem, para tornar mais simples a tarefa de explicar, vamos começar dizendo o que ela não é. Ok, cabala NÃO É religião, autoajuda, superstição, magia, bruxaria, sociedade secreta, meditação, adivinhação, interpretação de sonhos, ioga, hipnose ou espiritismo, embora possa estar relacionada a todas essas coisas. Agora fica mais simples entender o que a cabala É: um conjunto de ensinamentos sobre Deus, o homem, o Universo, a Criação, o Caminho, a Verdade e coisas afins; uma revelação de Deus para o homem. "Ela nos diz por que o homem existe, por que nasce, por que vive, qual é o objetivo de sua vida, de onde vem e para onde vai quando completa sua vida neste mundo", diz Marcelo Pinto, representante do centro de cabala Bnei Baruch no Brasil. "O ser humano tem muitas questões, e a cabala é um caminho espiritual que permite trazer de volta o elo com a verdadeira origem de tudo", explica Ian Mecler, professor de cabala no Rio de Janeiro e escritor de livros como O Poder de Realização da Cabala (Editora Mauad). Para Shmuel Lemle, professor da Casa da Cabala, também no Rio, "nada acontece por acaso. Existem leis de causa e efeito. Assim como existem leis físicas como a lei da gravidade, existem leis espirituais".

Independentemente de quando a cabala tenha surgido, o modo como a conhecemos hoje é o resultado da transmissão desses ensinamentos por meio da tradição judaica. A palavra cabala (????, em hebraico, cuja pronúncia mais próxima do original é "cabalá") significa receber/recebimento. A cabala é uma forma de misticismo, pois ensina que é possível ao homem ter contato direto com esferas superiores da realidade, ou mesmo com manifestações do próprio Criador. Portanto, de um modo simplificado, a cabala é o misticismo judaico, ou a corrente mística ligada à tradição do judaísmo, para ser mais exato.


União com o criador


Grosso modo, a cabala está para o judaísmo assim como o gnosticismo está para o cristianismo e o sufismo está para o islã. Gnosticismo e sufismo são as correntes místicas ligadas respectivamente às tradições cristã e muçulmana. Como misticismos, essas 3 correntes têm muito em comum. A maior parte das diferenças está no modo de transmissão do conhecimento, adaptado à tradição em que aquele tipo de misticismo se desenvolveu. Esse raciocínio não vale apenas para as 3 religiões chamadas abraâmicas (por serem todas herdeiras do patriarca Abraão) mas também para as místicas orientais, como hinduísmo, tao e budismo, além do zoroastrismo na Pérsia, só para citar as mais conhecidas.

 

Se a cabala é um tipo de misticismo, talvez seja o caso de explicar: o que é misticismo? Em poucas palavras, é a crença na possibilidade de percepção, identidade, comunhão ou união com uma realidade superior, representada como divindade(s), verdade espiritual ou o próprio Deus único, por meio de forte intuição ou de experiência direta em vida. Na intenção de atingir esse tipo de experiência, as tradições místicas fornecem ensinamentos e práticas específicos, como meditação e aperfeiçoamento pessoal consciente. Nosso foco nesta reportagem, a cabala, não é exceção. Para entender melhor, vamos dar uma espiada no passado?


Tradição oral


Seja qual for o primeiro e privilegiado homem a ter recebido o conhecimento esotérico da cabala, ninguém discute que os ensinamentos foram transmitidos oralmente ao longo de muitas gerações, até que alguém resolvesse eternizá-los na escrita. Os primeiros escritos conhecidos com referências a esses ensinamentos datam do século 1. São livretos reunidos numa coleção chamada Heichalot ("Os Palácios"), que versam sobre os passos necessários para ascender evolutivamente através de 7 palácios celestiais, com ajuda de espíritos angelicais. Mas os livros mais importantes da cabala são o Sefer Yitizirah (Livro da Criação) e o Zohar (Livro do Esplendor), ambos de origem incerta. O primeiro teria sido escrito no século 2, mas seu autor é desconhecido. No caso do Zohar, a situação é ainda mais complexa. Para alguns cabalistas, ele foi escrito pelo rabino Shimon bar Yochai, também no século 2. A maioria dos estudiosos, porém, acredita que o Livro do Esplendor seja de autoria do escritor judeu-espanhol Moisés de León, que divulgou os manuscritos no século 13.

Embora o Sefer Yitizirah e o Zohar concentrem em suas páginas os principais ensinamentos da cabala, é importante lembrar que a Torá é tão importante quanto eles. Isso porque, segundo a cabala, a Torá contém ensinamentos preciosos codificados dentro do texto sagrado - decifrar esses ensinamentos ocultos é, por sinal, um dos principais propósitos do misticismo judaico. Uma das maneiras de interpretar a bíblia hebraica é recorrer a códigos e números: a guematria, a face matemática da cabala (veja reportagem na página 32), atribui valores numéricos a cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. A ordenação dessas letras no texto bíblico seria uma das maneiras que Deus teria encontrado para revelar ao homem os segredos do Universo.

As interpretações da Torá são tão importantes que foram divididas em 4 níveis de profundidade. O 1º nível, Peshat, é aquele com que todos leitores estão acostumados, mais simples, que compreende o sentido literal do texto. O 2º, Remez, já considera os significados alegóricos da linguagem (alusões). No 3º nível, Derash, entram comparações entre trechos similares e metáforas. O último nível seria aquele que compreende o sentido secreto e misterioso da mensagem divina: Sod. Juntos, os nomes das interpretações já possuem um significado próprio. Combinando-se as primeiras letras de cada um, obtém-se a palavra PaRDeS, que significa paraíso e remete à finalidade última do esforço de interpretação. Isto é, ao finalmente compreender a mensagem que Deus colocou nos textos sagrados, o cabalista receberia de volta o conhecimento do paraíso, como se lhe fosse devolvida a chave para retornar ao Éden, do qual Adão foi expulso por desobediência. "É como uma gota retornando ao oceano, de volta à realidade divina. Não é um processo fácil", diz o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira.


Mestres e discípulos

Durante séculos, especialmente após a destruição do Segundo Templo em Jerusalém pelos romanos, no ano 70, a sabedoria da cabala foi cuidadosamente transmitida "por mestres iluminados somente a pequenos grupos de seus discípulos mais brilhantes e inspirados", conta Alanati. Os discípulos ideais eram homens maduros (mais de 40 anos), pais de família, de comportamento exemplar e ávidos por descobrir os segredos do Universo. Não eram muitos, portanto, aqueles que se tornavam mestres e davam continuidade à transmissão do conhecimento oral.

Para boa parte dos cabalistas, as restrições tinham uma razão clara: o público não estava preparado para receber esses ensinamentos. "Esse é o principal motivo para a transmissão restrita", opina Mecler. "Hoje, a evolução da ciência ajuda a compreender muitos dos ensinamentos antigos", diz. Mas o motivo de tanto segredo não era somente a escassez de discípulos ideais. Em diversas épocas, por razões diferentes, os judeus foram proibidos de professar publicamente sua fé - a perseguição aos cabalistas atingiu o clímax no século 16, durante a Inquisição espanhola (veja reportagem na página 56). Além disso, "a cabala contém uma reinterpretação revolucionária do texto bíblico, que usa uma simbologia complexa e uma linguagem ambígua", diz Alanati. Por causa disso, em muitas ocasiões os cabalistas foram considerados hereges. Até hoje, o estudo da cabala é condenado por várias vertentes do judaísmo.

Entre o período final da Idade Média e o fim da Idade Moderna, houve um ressurgimento da cabala. No século 13, o Zohar foi distribuído pelo escritor espanhol Moisés de León; no século 16, os conhecimentos foram sistematizados pelo místico Moisés Cordovero, um dos sábios a se refugiar na cidade israelense de Safed; em seguida, Isaac Luria divulgou novas interpretações dos ensinamentos, que foram espalhados por vários mestres pela Europa, fazendo da cabala a teologia dominante em círculos escolásticos e no imaginário popular judaico; e, no século 18, o rabino Baal Shem Tov fundou o hassidismo, variante ortodoxa do judaísmo que ensinava uma versão mais "fácil" da cabala. De todo modo, "a essência é a mesma há 4 mil anos", diz Mecler. "O conhecimento não muda, assim como as leis da física não mudam. Muda só a forma de transmitir", diz Lemle.

Hoje, com o advento da internet, o conhecimento da cabala é acessível a qualquer interessado, ainda que de forma simplificada. "Estamos prontos, então a hora chegou", conclama Lemle. Nos séculos 20 e 21, foram feitas diversas traduções do Zohar para o hebraico moderno (o idioma original é o aramaico) e para o inglês (não existe uma versão completa em português). Mas o fator que mais contribuiu para a popularização da mística judaica foi a recente adesão (desde a década de 1990) de celebridades como Madonna, Mick Jagger, David Bechkam, Britney Spears e outras.

A organização responsável pelo surgimento da cabala pop é o Kabbalah Centre, uma escola de cabala fundada em 1984 na cidade de Los Angeles. Lá, como você pôde perceber ao ler o nome dos famosos, o acesso aos ensinamentos não é restrito a judeus. "Temos alunos de várias religiões", diz Yehuda Berg, um dos coordenadores do centro americano. "Não vejo problema nisso."

Nem todos estudiosos aceitam a ideia de que a cabala deva ser acessível a todos. A atitude do Kabbalah Centre provocou reações indignadas de cabalistas mais tradicionais, como o iraquiano Yitzhak Kadouri, um dos mais importantes estudiosos da cabala no último século. "A cabala não é moda", disse em 2004, comentando a adesão de Madonna ao misticismo. "Ela deve ser estudada somente por judeus."

Controvérsias à parte, a verdade é que a cabala ganhou milhares de aspirantes de diversas religiões nos últimos anos. Mas essa não é a primeira vez que acontece esse tipo de "sincretismo". Veja a seguir como diversas crenças e religiões encontraram na cabala uma parceira de peso.


Parcerias poderosas

Durante o Renascimento, a cabala despertou interesse de grupos místicos cristãos, intrigados com a compatibilidade entre as duas tradições. O resultado foi a criação da cabala cristã (ou católica)  ,  que levou novos níveis de interpretação aos textos sagrados cristãos. "Considero Jesus um mestre de cabala", diz Mecler. Um sincretismo mais profundo resultou no surgimento da chamada cabala hermética, que reúne ensinamentos de gnosticismo, alquimia, astrologia, religiões egípcia, greco-romana e pagãs, tarô, tantra, maçonaria, hermeticismo, neoplatonismo, hinduísmo e budismo, em uma espécie de síntese de todas as tradições místicas ditas autênticas. Outra variante é a cabala prática, que trabalhava com o uso da magia, incluindo a criação de amuletos e encantamentos, e teve seu apogeu na Idade Média.

Mas, além dessas tradições cabalísticas distintas, a própria cabala judaica tem diferentes correntes. Uma delas é a já citada cabala pop. Outra variante tem como expoente o Bnei Baruch Kabbalah Education & Research Institute, fundado em 1991. Autodenominado o maior grupo de cabalistas em Israel, o Bnei Baruch não considera a cabala um misticismo, mas "uma ferramenta científica para o estudo do mundo espiritual". A proposta deles para compreender o Universo é aliar os estudos científicos da física, da química e da biologia às ferramentas cabalísticas. Seu fundador e atual diretor, o filósofo Michael Laitman, é Ph.D. em cabala pela Academia Russa de Ciências e mestre em biocibernética médica.

Além dessas e, claro, do judaísmo hassídico, existem outras correntes - mais conservadoras, mais literais, mais flexíveis... "Cada escola se liga mais em um ou outro mestre", esclarece Mecler. As diferenças são na ênfase em cada aspecto da sabedoria, mas todas seguem a base comum dos textos sagrados e da tradição oral. "Existem muitos mestres, e cada um pode escolher aquele com o qual se identifica, mas não há diferença na base do ensinamento", diz Lemle. Afinal, como costumam dizer, "a Verdade é uma só". Que tal conhecer um pouco dela?


Deus-infinito

 
Assim como a religião judaica, a cabala afirma que tudo o que existe vem de Deus. Entretanto, o Deus único não é compreendido exatamente da mesma maneira. Se, para a religião tradicional, Deus é o todo-poderoso Criador de todas as coisas, para a cabala Ele não é somente o Criador mas é também a Criação. Ou seja, a Criação não é dissociada do Criador, mas parte d’Ele. A existência de Deus não seria, portanto, distinta do espaço e do tempo; o espaço e o tempo estariam contidos no próprio Deus-Infinito. Mas não vá pensando que já entendeu, porque isso não é assim tão simples. E nem imagine que essas racionalizações vão proporcionar a você um entendimento profundo de Deus. Por um simples fato: segundo a cabala, ou mesmo a religião judaica, o Deus-Infinito não pode ser compreendido pela nossa mente física limitada.

Claro que, apesar disso, os cabalistas não deixam de estudar esses ensinamentos, porque os consideram fundamentais para prosseguir no caminho da evolução espiritual. Um dos estudos mais importantes é justamente o que diz respeito à natureza da divindade. Para começar, os cabalistas preferem o termo Deus-Infinito - uma tradução para ??? ??? (lê-se da direita para a esquerda), ou Ein Sof, aquele que veio antes de tudo, que precede a Criação. Veja o que diz o Zohar sobre o Ein Sof: "Antes de dar qualquer formato ao mundo, antes de produzir qualquer forma, Ele estava só, sem forma e sem semelhança com qualquer outra coisa. Quem então pode compreender como Ele era antes da Criação? Por isso é proibido emprestar-Lhe qualquer forma ou similitude, ou mesmo chamá-Lo pelo Seu nome sagrado, ou indicá-Lo por uma simples letra ou um único ponto... Mas, depois que Ele criou a forma do Homem Celestial, Ele a usou como um veículo por onde descer, e Ele deseja ser chamado por Sua forma, que é o nome sagrado ‘YHWH’".

 
Pode parecer estranho não poder dar um nome a Deus, tornando-o de certa maneira inacessível para os homens. Afinal, se é assim, como pode existir uma experiência mística que permite esse acesso? Bem, a cabala explica que o contato com Deus é realizado indiretamente, por meio de um de seus desdobramentos. "Para tornar-se ativo e criativo, Deus criou as 10 sefirot ou emanações. As sefirot formam a Árvore da Vida, que representa os aspectos de Deus existentes dentro de nós", explica o rabino Alanati. Ou seja, uma maneira de ter o contato místico com Deus é através de uma das 10 sefirot, as mesmas representadas no famoso diagrama. Alanati explica que as 7 esferas mais baixas estão diretamente relacionadas com os 7 dias da Criação descritos no livro do Gênese.
 
Mas como teria se dado exatamente a Criação? A cabala tem um livro dedicado a esse tema: o já citado Sefer Yitizirah. O texto ensina que a primeira emanação do Ein Sof foi ruach (espírito/ar), que em seguida gerou fogo, responsável por formar água. A existência real dessas substâncias potenciais foi comandada por Deus, que as utilizou como matérias-primas de toda a Criação. Por exemplo, a água deu origem à terra, o fogo originou o céu e o ar ocupou o espaço entre eles para formar nosso planeta. Ainda segundo o Sefer, o Cosmos é dividido em 3 partes (cada uma delas contendo uma combinação dos 3 elementos primordiais): o mundo (ou, com alguma abstração, o espaço), o ano (tempo) e o homem.


A cabala divide o Universo em 4 planos de existência, divididos hierarquicamente a partir da emanação do Ein Sof até nós. Nessa ordem, teríamos então: o Atziluth (Mundo da Emanação ou das Causas), que recebe a luz diretamente do Ein Sof; o Beri’ah (Mundo da Criação), onde não há matéria e onde moram os anjos de mais alta hierarquia; o Yitizirah (Mundo da Formação), onde a Criação assume forma material; e o Assiah (Mundo da Ação), onde se completa a Criação e se localiza todo o Universo físico e suas criaturas. No sistema luriânico, um quinto mundo é mencionado, acima do primeiro, e que serviria de mediação entre o Ein Sof e o Mundo da Emanação.


Planos superiores

É curioso observar que, na cabala luriânica, desenvolvida no século 16 pelo rabino Isaac Luria, há um conceito que lembra a Teoria do Big Bang. Segundo essa linha cabalística, a primeira ação de Ein Sof para criar o Universo teria sido uma contração sobre si mesmo, que teria provocado uma catástrofe inicial chamada tohu, gerando um vácuo. Em seguida, esse váculo teria sido preenchido com as emanações divinas (de uma maneira explosiva, tendo em vista a grande velocidade dos acontecimentos narrados) e, a seguir, "retificado" nos mundos que você conheceu no parágrafo anterior.

Enquanto estiver no Mundo da Ação, o homem está sujeito a dirigir o corpo físico que lhe foi concedido, mas seu objetivo deve ser sempre o mesmo: aprender e evoluir para ascender aos planos superiores. "O judaísmo acredita que a alma é eterna e subdividida", diz Alanati. "A vida continua em outras realidades além da nossa, aguardando a ressurreição. A cabala é a única corrente dentro do judaísmo que defende o conceito de reencarnação: algumas almas retornam a este mundo em outro corpo, até acabar de cumprir a sua missão. Ou então elas voltam para nos trazer bênçãos e luz através de seu ser altamente desenvolvido". Segundo ele, seria possível uma alma atingir o estágio de evolução necessário em uma única vida, mas é comum receber mais algumas chances, num processo de reencarnação que também faz parte dos aprendizados evolutivos.

Segundo a cabala, a alma humana é dividida em 3 partes básicas. A mais "baixa", chamada nefesh, é a parte animal, responsável pelos instintos e reflexos corporais. Acima dessa estaria ruach, o espírito ou alma média, que contém as virtudes morais e a habilidade de distinguir o que é bom e o que é ruim. A alma alta, neshamah, seria a terceira parte, que representa o intelecto e distingue o homem das outras formas de vida, por permitir a vida após a morte. É a neshamah que permite a percepção da existência de Deus.

Outras duas partes da alma humana são discutidas no Zohar: chayyah, que permite a consciência da força divina, e yehidah, a parte da alma que é alta o suficiente para atingir o maior nível possível de união com o Criador. "A meta é alcançar o propósito para o qual fomos criados: a equivalência de forma com a Força Superior. Todo o trabalho na cabala tem esse objetivo", resume Marcelo. Na hipótese remota de a humanidade finalmente se unir ao Criador, em uma fusão completa e perfeita, o que aconteceria? O fim do mundo? O começo de uma nova e gloriosa Criação? Bom, isso nem mesmo os mestres cabalistas sabem responder...


VOLTA ÀS ORIGENS
Grupo de jovens israelenses se reúne em uma caverna perto da vila de Beit Meir, em Jerusalém, para estudar a cabala, em maio de 2010. Uma vez por semana, cerca de 12 judeus ortodoxos se encontram nesta caverna perto da cidade sagrada para repetir um ritual antigo: analisar e discutir, por horas a fio, os textos de livros como o Zohar.


FESTA MÍSTICA
Mais de 2 mil estudantes da cabala se reuniram na Times Square, em Nova York, para celebrar a chegada do Ano-Novo Judeu, Rosh Hashana, em setembro de 2001. O canto, a dança e as vestes brancas são típicos de uma nova geração de cabalistas, que considera a festa, a celebração e a alegria tão importantes quanto a meditação e as longas sessões de estudo dos textos antigos.


LADO A LADO
Judeus ortodoxos e soldados israelenses rezam juntos na tumba do rabino Isaac Luria, em Safed, Israel. Luria, um dos mais importantes cabalistas de todos os tempos, foi o responsável pela renovação do misticismo no século 16 com a criação da cabala luriânica e a divulgação de seus ensinamentos para além dos círculos judaicos.


BANHO SAGRADO
Um judeu se banha nas águas geladas da Mikve HaAri, localizada em Safed, Israel. Cabalistas repetem há anos o ritual, prestando homenagem ao rabino Isaac Luria, que teria utilizado as mesmas águas no século 16. Alguns se banham todos os dias, mas o mais comum é realizar o ritual na véspera do Shabat.


SÓ PARA JUDEUS
O cabalista Yitzhak Kadouri segura um exemplar do Zohar na biblioteca de sua casa em Jerusalém, em 2004. Um dos maiores estudiosos contemporâneos da cabala, Kadouri ganhou notoriedade por sua influência política e por suas declarações polêmicas. Em 2004, durante visita de Madonna a Israel, ele se recusou a falar com a cantora, dizendo que "o estudo de cabala é proibido para as mulheres, e também para os que não são judeus".


A cabala no tempo Conheça a evolução da corrente mística judaica, da criação do Universo até os dias de hoje

Criação

Origem - 3700 a.C.
Deus cria Adão. Há quem defenda que ele teria sido o primeiro conhecedor da cabala, obtida diretamente do Criador.


Patriarca - 1800 a.C.
Nasce Abraão, patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. Para alguns, ele seria o primeiro conhecedor da cabala.


Êxodo - 1500 a.C.
O profeta Moisés teria recebido a cabala diretamente de Deus no monte Sinai, juntamente com a Torá e os Mandamentos.


Templo - 516 a.C.
É erguido o Segundo Templo em Jerusalém. A chamada Torá Oral é transmitida ao longo dos anos.


Formação
Diáspora - 70 D.C.
Perseguição romana e destruição do Segundo Templo. Segunda diáspora. Cabala é mantida em segredo.


Palácios - Séc. 1
É escrita a coleção de literatura judaica conhecida como Heichalot ("Os Palácios"), que inspirou motivos cabalísticos.


Manuscritos - Séc. 2
É escrito o livro Sefer Yitizirah, a obra mais antiga do chamado esoterismo judaico. Segundo a tradição, é escrito também o Zohar, no idioma aramaico, pelo rabino Shimon bar Yochai.


Título - Séc. 11
O termo cabala passa a ser usado para identificar o misticismo judaico. Não há consenso se o pioneiro nesse uso foi o filósofo judeu Shlomo ibn Gevirol ou o cabalista espanhol Bahya ben Ahser.


Expansão
Redescoberta - Séc. 13

O Zohar é descoberto (ou escrito, segundo alguns estudos) e distribuído pelo escritor judeu-espanhol Moisés de León.


Renovação - Séc. 16
Sábios cabalistas refugiam-se na cidade de Safed, em Israel: entre eles está Isaac Luria, criador da cabala luriânica.


Vivência - Séc. 18
Fundado pelo rabino e místico judeu Baal Shem Tov, o judaísmo hassídico, ramo ortodoxo que prega a vivência mística da fé judaica, populariza uma forma mais simples de cabala no Leste Europeu.


Tradução - Séc. 20
O rabino Yehuda Ashlag, fundador do Kabbalah Centre de Israel, completa em 1922 a primeira tradução do Zohar para o hebraico moderno. Em 1984, Philip Berg funda o Kabbalah Centre de Los Angeles.


Ao acompanhar esta linha do tempo, você vai notar algumas discrepâncias entre o que dizem as tradições judaicas e a opinião dos estudiosos. O caso mais exemplar é o do Zohar: no século 13, Moisés de León distribuiu a primeira versão escrita da obra, alegando que havia encontrado os manuscritos originais, do século 2. Conta-se, porém, que um homem rico ofereceu à viúva de Moisés de León uma alta soma de dinheiro pelos originais. Desolada, ela teria confessado que seu marido era o verdadeiro autor.



Uma verdade, muitos caminhos Cada misticismo tem seu próprio método para chegar até a Verdade. Mas a essência é a mesma. Veja aqui as semelhanças e diferenças entre 6 correntes místicas

CABALA
O que é - O misticismo judaico é baseado na crença de que todos os segredos do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, na Torá. Os cabalistas procuram desvendar esses segredos.


Principal texto - Distribuído no século 13 pelo rabino Moisés de León, o Zohar ajuda a explicar os ensinamentos ocultos na Torá.

Principal patriarca - Abraão, embora não haja consenso se o primeiro conhecedor da cabala teria vindo antes (Adão ou Noé) ou depois (Moisés).

Entidade máxima - Ein Sof, o Deus-Infinito, que criou o Universo usando as 22 letras do alfabeto hebraico e as 10 emanações chamadas de sefirot.


GNOSTICISMO
O que é - Gnose é um tipo especial de conhecimento, uma espécie de saber profundo. Ligado à história do cristianismo, o gnosticismo possui elementos pagãos e outros sincretismos.

Principal texto - Escrito por volta do séc. 2, o Pistis Sophia relata os ensinamentos de um Jesus ressuscitado aos apóstolos.

Principal patriarca - Para os gnósticos, Jesus Cristo é o maior mestre de todos os tempos, mas não é considerado o próprio Deus.

Entidade máxima - O Absoluto. Num conceito próximo ao do Ein Sof, Ele também tem emanações, conhecidas como "Æons".

SUFISMO
O que é - A palavra remete à ideia de pureza. Enquanto o islã crê no encontro com Deus após a morte, o sufismo defende essa possibilidade ainda em vida, por meio de uma experiência mística, chamada irfan.

Principal texto - Escrito no século 11 pelo sábio persa Hujwiri, o Kashf al Mahjub ("Revelando o Velado") discute os principais conceitos sufistas.

Principal patriarca - O profeta Maomé teria transmitido os ensinamentos sufistas àqueles que poderiam experimentar um encontro com Alá.

Entidade máxima - Seguindo a tradição islâmica, Alá é o único Deus, embora tenha uma coleção de nomes, assim como acontece na cabala.


RAJA IOGA

O que é - Originado no hinduísmo, o raja ioga ("ligação", em sânscrito) também está presente no budismo e consiste em disciplinas mentais muito além das práticas mais conhecidas no Ocidente.

Principal texto - Os textos hindus conhecidos como Ioga Sutra explicam os meios de atingir o Samadhi, que seria a união completa com Deus.

Principal patriarca - Não tem. Entretanto, uma figura histórica importante é Patañjali, autor dos Yoga Sutra e de outros textos filosóficos.

Entidade máxima - Brahman é para o Ioga a Realidade Eterna, Infinita, Imutável, Origem e Identidade de tudo o que há no Universo.
ZOROASTRISMO
O que é - Misticismo surgido na antiga Pérsia, baseado nos ensinamentos de Zaratustra. Dizem que os iniciados detinham o conhecimento místico necessário para dominar as forças da natureza.

Principal texto - Chamado Gathas, traz versos que exploram a essência divina da Verdade, da Mente Sadia e do Espírito de Justiça.

Principal patriarca - O profeta Zaratustra (ou Zoroastro) viveu em algum momento entre os séculos 16 e 10 a.C. e teria sido o autor do Gathas.

Entidade máxima - Chamado por Zaratustra de "o Deus não criado", por ser a origem de tudo, Ahura Mazda é onisciente, mas não onipotente.
TAO
O que é - Profundamente dualista, o tao prega o caminho do equilíbrio entre os eternos opostos. Viver em harmonia, agindo com sutileza por meio do "não agir" (wu-wei), seria a chave para atingir o Tao.

Principal texto - O Tao Te Ching ("Livro do Caminho e da Virtude") serviu de inspiração não só para o taoismo, mas também para o zen-budismo.

Principal patriarca - Autor do Tao Te Ching, o reverenciado Lao Tsé (o nome significa Velho Mestre) é envolto em mistérios.

Entidade máxima - Verdadeira natureza do Universo, o Tao o precede e o abarca completamente. Não personificado, confunde-se com o próprio Caminho.
Texto Daniel Schneider. Revista Super agosto 2010

O que seria a Cabala?


O formato da Torá, livro sagrado do judaísmo, impressiona: dois grandes rolos de pergaminho escritos à mão com tinta especial, presos a carretéis de madeira e envoltos por um pano bordado e ornamentos de prata. Seu conteúdo, revelado por Deus a Moisés no monte Sinai, inclui os 5 primeiros livros da Bíblia e narra desde a Criação até a saga do povo de Israel pelo deserto em busca da Terra Prometida. Mas a riqueza dos pergaminhos vai muito além. Segundo a cabala, tradição mística judaica, as 304 805 letras hebraicas da Torá também contêm significados ocultos sobre Deus e as leis do Universo. Ao usarem chaves numéricas e meditações para desvendar esses mistérios, os cabalistas tiram lições das histórias narradas no texto. E você não precisa ser rabino ou mesmo judeu para ter acesso a esses ensinamentos e usá-los para viver melhor.

O segredo da cabala é relacionar palavras e números da Torá de uma maneira específica. E sua origem está no Sefer Ietsirá, ou Livro da Criação, obra minúscula que ninguém sabe ao certo quando e por quem foi escrita. O fato é que ela introduz a idéia de que Deus criou o Universo usando as 22 letras do alfabeto hebraico. “O Gênese já dizia que o verbo divino foi o instrumento da Criação: Deus disse ‘Haja luz’, e houve luz. A novidade do Sefer Ietsirá é especular em detalhes como Deus combinou essas letras”, diz o pesquisador Daniel C. Matt no livro O Essencial da Cabala. O livro também apresenta a idéia das sefirot, plural de sefirá, que pode significar “reino”, “esfera” ou “contagem”, conforme a tradução. Representadas pelos números de 1 a 10, elas são consideradas outro instrumento da criação do Universo. O livro só não explicava como usar tudo isso para revelar os significados ocultos da Torá.

A era de ouro da cabala
Até que no século 13 o espanhol Moisés de León publicou o Sefer Ha Zohar, Livro do Esplendor, com as regras que consolidaram o que hoje se conhece como cabala. Ele conectou cada sefirá a um modo que Deus tem de atuar, bem como a um personagem bíblico. “A sefirá de Chessed, por exemplo, está ligada ao amor e a Abraão. Quando os cabalistas lêem Abraão na Torá, lêem também esse aspecto misericordioso de Deus atuando no mundo”, diz Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira.
Além de usar essas associações entre aspectos de Deus e passagens da narrativa, os cabalistas interpretam a Torá utilizando a guimátria, numerologia judaica. O princípio é que cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico, do alef ao tav, possui um valor numérico. “As primeiras 9 letras estão associadas às unidades (1, 2, 3, ..., 9); as 9 letras seguintes estão associadas às dezenas (10, 20, 30, ..., 90); e as últimas 4 estão associadas às centenas (100, 200, 300, 400)”, diz o pesquisador David Zumerkorn no livro Os Segredos da Guimátria. Fazendo as contas (veja abaixo), surgem os significados ocultos que expandem os ensinamentos do livro sagrado. “Aparentemente, as histórias da Torá não têm relação com a vida diária. Mas a cabala mostra que, por trás delas, há ensinamentos profundos sobre como lidar com nosso semelhante e encarar as situações”, diz Samuel Lemle, professor do Kabbalah Centre (Centro de Cabala) no Brasil.
Lemle menciona o mandamento bíblico “Não matarás”, lembrando que na Torá há uma passagem onde Deus ordena aos israelitas matar o povo de amalek. Uma baita contradição, certo? A não ser que se usem as contas do Zohar para ver que as letras hebraicas da palavra amalek têm o mesmo valor numérico que a palavra safek, que significa “dúvida” ou “incerteza”. “A cabala usa a numerologia para entender que matar Amalek não é matar um povo, mas a dúvida e a incerteza dentro de nós”, diz Lemle. “A guerra não é contra o inimigo lá fora, mas contra um oponente interno, um lado negativo da nossa natureza: pensamentos do tipo ‘não vou conseguir’ e ‘isso não vai dar certo’. Eles sabotam a nossa vida.”
Segundo o professor, cabalistas milenares usavam essa sabedoria para se tornarem pessoas melhores e crescer espiritualmente. Assim como cabalistas modernos, eles queriam não apenas compreender mais sobre Deus mas também obter lições de vida e aconselhar as pessoas. E, ao contrário do que muitos pensam, o misticismo judaico nunca foi um oráculo capaz de descobrir coisas sobre o passado ou o futuro. De vez em quando alguém até arrisca esse caminho – por exemplo, tentando prever a chegada do Messias, mas sempre dá errado. O rabino Alanati lembra que a cabala também não tem nada a ver com amuletos. “Na Idade Média, muita gente escrevia fórmulas com permutações das letras dos nomes de Deus atrás da mezuzá (caixinha colocada no batente da porta nas casas judaicas)”, diz ele.

Uma tradição secreta
Por essas e outras, durante muito tempo não foi fácil ter acesso à cabala. Os candidatos tinham que ser homens judeus de mais de 40 anos – e só os mais qualificados espiritualmente eram aceitos. “Os rabinos temiam que as técnicas caíssem nas mãos de quem não tinha a preparação necessária. Em quase todas as religiões, as iluminações místicas dos leigos sempre foram fontes de risco e heresias”, diz o historiador Gershom Scholem no livro As Grandes Correntes da Mística Judaica. Até hoje, judeus ortodoxos restringem o ensino da cabala. Mas algumas correntes mais progressistas discordam. “Não é que os cabalistas antigos quisessem ocultar a cabala. É que não tínhamos a linguagem acessível para compartilhar esses conhecimentos. Mas os avanços da nossa era já nos permitem entendê-los”, diz Lemle.

A popularização do estudo
Assim o estudo da cabala levou séculos para sair da obscuridade total, mesmo entre os judeus, até a relativa popularidade atingida nos anos 90, quando o Kabbalah Centre, nos EUA, abriu as portas da cabala para leigos de qualquer religião. Madonna, uma de suas freqüentadoras, garante que tem atraído boas vibrações desde que começou a fazer o curso. Os ortodoxos criticam a iniciativa (que inclusive foi rotulada de cabala “pop” ou “light”), mas o Kabbalah Centre garante que o conhecimento é o mesmo e até os livros de seus alunos são exatamente os mesmos que servem de fonte para os judeus.
Segundo Lemle, a primeira coisa que o estudo da cabala proporciona é uma nova atitude diante da vida. “Do mesmo jeito que existem leis físicas, como a lei da gravidade, a cabala diz que existem leis espirituais que regem este mundo. E nos ensina a conviver com elas em harmonia”, afirma. Por exemplo: a cabala diz que não existe o acaso, e sim a lei de causa e efeito. Tudo o que acontece na nossa vida fomos nós que criamos de alguma forma. Assim, o ensinamento mais importante para quem começa a estudar no Kabbalah Centre é deixar de ter um comportamento reativo e passar a ser proativo. Ou seja, deixar de ser o efeito de determinadas situações e se tornar a causa delas.
“Sendo proativo, você deixa o papel de vítima, que nunca tem controle sobre a situação. Você aprende a parar, pensar e buscar a melhor forma de agir em cada momento”, diz Lemle. Segundo ele, isso pode ser aplicado em situações tão corriqueiras como uma conversa entre irmãos ou uma briga entre marido e mulher. “Os cabalistas milenares também eram proativos. Abraão ensinava às pessoas que existia um único Criador e que havia uma lei de causa e efeito. Ou seja, ensinava uma forma de encarar a vida”, afirma.
Na busca por essa nova atitude, os alunos aprendem a usar ferramentas cabalísticas. As mais simples são feitas de combinações de letras que não têm nenhum significado em hebraico; são simplesmente chaves, como ABD, que funcionam como uma espécie de mantra para meditação. “O Zohar explica que os olhos são as janelas da alma. Passar os olhos todo dia por essas seqüências de letras nos ajuda nessa mudança espiritual. O processo de visualização alimenta nossa alma para que possamos ser proativos”, diz o professor.
Claro que ninguém vai freqüentar algumas aulas e mudar sua vida de repente. “Uma pessoa precisa estudar física quântica por muitos anos para entendê-la profundamente, mas começa aprendendo a contar de 1 a 10. No curso, é a mesma coisa. O aluno começa contando até 10”, diz ele, acrescentando que mesmo o conhecimento limitado das primeiras aulas do curso já possibilita aos alunos tirar algum proveito na prática, como controlar melhor as emoções no dia-a-dia. “Mas nada vai funcionar se não tivermos a verdadeira intenção de aprender e nos tornarmos pessoas melhores.”

A árvore da vida
 
A estrutura do Universo, segundo a cabala
As 10 sefirot formam uma árvore invertida, chamada Árvore da Vida. A raiz fica em cima, próxima ao aspecto primordial de Deus, e os galhos embaixo, nas sefirot inferiores. A sefirá Malchut é a mais próxima do ser humano e a que lhe dá a primeira sensação de Deus atuando no mundo. À medida que evolui espiritualmente, a pessoa sobe os degraus em direção às sefirot superiores. Além disso, a árvore tem 3 colunas. “Buscamos a coluna central, que é o equilíbrio”, diz Samuel Lemle. “Tenho muito amor pelo meu filho, mas não posso dar tudo a ele, pois o amor também envolve dar limites.” Por isso Chessed (amor) está ao lado de Guevurá (justiça).

Texto Eduardo Szklarz

Kabbalah: A Evolução do Ego


A Historia da Evolução do Ego


Como a nossa natureza é o desejo de receber e ser satisfeito (satisfazer nossos desejos corporais por alimento, sexo e família, e nossos desejos humanos em troca de dinheiro, respeito, controle e conhecimento), o nosso ego revelado nestes desejos foi se desenvolvendo e determinando o progresso da humanidade desde os tempos antigos até meados do século XX. Portanto, nós mudamos constantemente, e ao mesmo tempo mudamos a nossa sociedade, desenvolvendo tecnologia, indústria, a família e as disposições sociais, etc.
A partir da metade do século XX, o ego parou o seu crescimento linear e começou a ficar redondo, o que significa que se tornou egoisticamente global. Assim, nós descobrimos que a natureza que nos rodeia é oposta a nós, ou seja, é altruisticamente global (em doação). Estes dois sistemas estão agora num conflito.
Nosso papel é garantir que eles não estarão em conflito e não negarão um ao outro; caso contrário, a humanidade começará a se destruir com a atração de uma indesejável influência negativa da natureza. É importante que a humanidade se torne mais como a natureza e em harmonia com ela.
Isto significa que o desenvolvimento do ego atingiu o seu fim. Por um longo tempo, ele nos empurrou para frente; nós acreditávamos que esse era o caminho para mudar o mundo e fazer o que quiséssemos com ele, e agora isso chegou ao fim. Agora, o mundo, a natureza, está se voltando contra nós, exigindo que mudemos. Portanto, temos que passar de uma mudança no nosso meio ambiente para uma mudança em nós mesmos.
Vemos que muitas pessoas no mundo já chegaram a essa conclusão. O método da educação integral é construído para contar, explicar, tranqüilizar e convencer as pessoas de que não é difícil mudar a si mesmo sob a influência do ambiente e da sociedade. Se agirmos desta forma, vamos criar uma sociedade harmoniosa e uma vida que vai abrir novos patamares para nós.
Um Método Essencial
Pra começar devemos falar sobre o movimento, sobre a evolução da humanidade, sobre o que a natureza nos trouxe, e quais os desafios que ela nos apresenta. Ao mesmo tempo, buscar fatos como evidência, das pesquisas e opiniões de cientistas, psicólogos, cientistas políticos, economistas e todos aqueles que lidam com mecanismos globais da humanidade ou da natureza.
Sabemos que todos eles quase chegaram a um consenso de que entramos num sistema muito interessante que mostra a sua interação plena e global, e a integralidade absoluta na qual cada parte depende das outras e determina o que vai acontecer com as outras. Neste sistema tudo funciona em harmonia, exceto o homem: ele viola o equilíbrio porque é oposto à natureza. O ego do homem se desenvolveu a tal ponto que, de repente, uma divergência, um contraste e oposição são revelados entre a sociedade humana, incluindo todos os sistemas e instituições que criamos, e o sistema geral da natureza.
Portanto, não há outra escolha. Como nós sentimos esta oposição como uma crise, devemos procurar o método de equilibrar-nos com a natureza. Então vamos nos sentir confortáveis.
Este é o tema para introduzir: por que devemos estudar o método integral, qual a finalidade?
Assim, estudar educação integral deve ser percebido como mais importante e urgente para a humanidade, pois sem chegar a um estado de equilíbrio com a natureza, a situação global ameaçará nossa existência.
Devemos mostrar às pessoas que estamos lidando com algo que é muito importante e essencial. Ao estudarmos o método integral, adquirimos os vasos necessários para mudar a si mesmo e a sociedade, que ajudarão a nós mesmos a família e os filhos, no trabalho, e em cada interação com os outros, nos negócios, nas suas relações pessoais, em tudo.
O curso é bastante fácil, e é dado sob a forma de uma discussão entre os participantes sentados em círculo. AS pessoas trocam opiniões e, assim, avançam mais rápido. Este formato de estudo permite aos participantes lembrar o material melhor do que num formato de palestra.
Como a educação integral está se tornando cada vez mais popular em diferentes partes e círculos da sociedade, fica claro que quanto mais nós a alcançarmos, mais fácil será para nós nos adaptarmos aos outros, sentindo-nos assim mais seguros em todos os sentidos.
Fundamentos da Sociedade Integral
Quando o homem é sucessivamente rejeitado da união e anseia por ela novamente, ele está passando por uma cadeia de situações chamada de “exílio”. Ele começa a sentir cada vez mais que este é o exílio. Exílio de quê?
Aqui há toda uma série de esclarecimentos: o exílio do bom estado, o exílio da compreensão e exílio do que pode satisfazer o meu ego. Mas eu começo a receber tudo, apesar disso tudo. Para mim não importa o que eu deveria sentir. Mesmo se eu não sentir nada, o principal é que eu vou subir acima deste estado, de modo que o exílio para mim vai ser a falta da qualidade de doação em mim.
Quando eu me anulo, eu paro de sentir o meu estado. Se eu anulo o meu “eu” (a minha personalidade), eu não existo, só o Criador existe. É como se eu desaparecesse Nele, eu não me sinto. A única coisa que eu quero é entrar na qualidade de doação, esse amor que preenche tudo em volta de mim. Se eu fizer um esforço, eu começo a sentir que realmente trabalho com ela em harmonia. Este movimento já é consciente e é expresso como o exílio correto.
Eu começo a mudar meus valores. Se antes eu sentia satisfação, compreensão, um sentimento bom, e todas as coisas pessoais eram sublimes, eu já não o sinto agora.
Agora, a coisa mais importante e principal para mim é o anseio pela qualidade de doação. Melhor ainda se eu me esforço por ela acima de situações imperfeitas, porque isso me dá plena confiança de que não é o meu ego que me empurra para frente.
Ele me enfraquece, eu me sinto mal, me sinto fora do lugar, mas, apesar de estas situações, eu sou atraído à qualidade de doação, ao Criador, a este campo que preenche tudo que está ao redor. Anulando-me, eu me torno transparente em relação a este campo e a Luz superior passa por mim.
De repente, é revelado que o Criador me acompanha, como se dizendo a Moisés (ao meu ponto no coração), “Venha ao Faraó”. Isto é, eu começo a ver que quando Ele desperta o ego em mim, Ele ao mesmo tempo me ajuda a estar conectado a Ele. Por quê? Porque quando Ele desperta o meu ego, Ele desperta grande sofrimento. Agora, se eu posso ser atraído à qualidade de doação, isso não ocorre pela satisfação, porque vai contra o meu ego: assim, ele me ajuda a fazer a minha primeira restrição (Tzimtzum) e assim eu avanço todo o tempo aumentando meus esforços na direção da qualidade de doação, a despeito do que sinto.
A questão principal aqui é a anulação de nós mesmos e estarmos atraídos à qualidade de doação. Neste caso, eu já estou construindo acima do vaso (o desejo) uma tela e a Luz Refletida. Este é o primeiro estágio espiritual.
Depois de eu dirigir a mim mesmo, eu chego a um nível tal que subo acima do “Faraó”. Este estado é chamado “Fuga do Egito”. Eu me elevei acima do meu ego; certamente, eu não fujo dele para qualquer lugar, pois ele existe em mim, mas sob a “tela”, e eu acima dele. Este é o significado do “Êxodo do Egito”, quando eu, no meu sentimento, não estou na escravidão do meu ego.
Publicado em 18/junho/2012  no blog: www.laitman.com.br